Nós, pessoas com ansiedade

Ansiedade. mulher sentada com as mãos no rosto, sentindo ansiedade

Se você percebe os seus pensamentos acelerados (que, às vezes, te levam à insônia), sua respiração curta, seu coração acelerado, seu estômago se contorcendo, seus braços e pernas coçando, seu corpo todo tremendo, saiba que eu te entendo. Dar-se conta de que você é uma pessoa que sente ansiedade na maior parte do tempo é algo muito difícil, e eu sinto muito que você se sinta assim. Mas saiba que você não está só. Infelizmente, vivemos a era da pressa, que é ansiogênica, e a maioria de nós se sente ansiosa todos os dias.

A ansiedade se manifesta de formas diferentes nas pessoas, porque as pessoas são diferentes entre si. Ela pode ser generalizada ou situacional e costuma se manifestar diante de gatilhos, e parte fundamental do processo de tratar este sintoma é identificar que gatilhos são esses.

Às vezes, são situações de exposição; em outras, de confronto; por vezes, de comparação; em outras ainda de exaustão. Os gatilhos são muitos e surgem da nossa própria história, de como nos construímos no mundo.

Existem técnicas de controle da ansiedade, que envolvem respiração, concentração, identificação dos sinais com antecedência, etc. Mas o mais importante a fazer é: permitir sentir o que pede para ser sentido. A crise normalmente vem acompanhada de choro e sensação de impotência.

Nessas horas, é muito importante nos lembrarmos de que a crise é como uma onda, que em alguns minutos deve passar, e estarmos acompanhados de alguém que segure a nossa mão e nos lembre de que não estamos sozinhos.

O tratamento para ansiedade, comumente, é a psicoterapia e, em alguns casos, a medicação determinada pelo psiquiatra. Jamais devemos tratar a ansiedade se automedicando. Os riscos são altos (reações indesejadas, interações nocivas, dependência e até morte). O acompanhamento dos profissionais qualificados é FUNDAMENTAL.

A ansiedade, como qualquer outro transtorno psíquico, não tem cura, inclusive porque não é necessariamente uma doença. Ela é um sintoma que, se bem tratado, será remissivo. Ou seja: você vai conseguir lidar melhor com ele, prevendo a sua manifestação e sabendo dar lugar aos seus efeitos.

Esse transtorno psíquico altera os nossos modos de ser no mundo, ou seja, a maneira como a gente pensa, sente e age nas nossas relações, e isso nos causa prejuízos que, às vezes, a gente nem se dá conta. Quer ver só?

A ansiedade costuma me roubar quando…

  • Eu recuso um convite porque tenho certeza de que esse convite veio só por obrigação, que, na verdade, a pessoa que me convidou nem faz tanta questão assim da minha presença.
  • Eu tenho uma escolha significativa pra fazer e me baseio sempre pelo pior cenário, afinal, pra mim, as chances de algo dar errado são sempre maiores do que a possibilidade de sucesso.
  • Eu planejo me comportar de uma determinada forma num grupo, mas, chega na hora, eu meto os pés pelas mãos e saboto minha oportunidade de construir relacionamentos saudáveis.
  • Eu desisto de me lançar em um projeto novo porque catastrofizo, tenho certeza de que algo muito ruim vai acontecer e eu não vou conseguir alcançar meu objetivo.
  • Eu prefiro me calar em vez de me posicionar diante de uma situação que me causa desconforto, pois não tenho certeza de que o meu incômodo é real.
  • Eu não consigo dormir, mesmo estando tão cansada/o/e. Os pensamentos estão a mil, transitando entre passado, presente e futuro.
  • Eu deixo de comer ou como demais, pois viver uma relação saudável com a comida está fora de questão pra mim.
  • Eu me coloco em segundo, terceiro lugar na minha própria vida, porque acredito que todo mundo merece mais do que eu.

Um grande problema que costuma vir acompanhado da ansiedade é a incompreensão das pessoas.

Alguns fatos que você precisa saber sobre a ansiedade:

  • Não, não é drama. Quando eu estou em crise, realmente estou sofrente e achando que vou morrer.
  • Não adianta me dizer pra ter calma. Quando você faz isso, só está me gerando mais uma demanda num momento em que eu nem tô conseguindo dar conta de mim.
  • Ser uma pessoa ansiosa não é necessariamente estar angustiada com um futuro que eu não conheço. Às vezes, o gatilho pra minha ansiedade é remoer situações do passado.
  • Nem sempre eu consigo prever a chegada de uma crise, não me culpe por não te avisar com antecedência que eu ficaria mal.
  • Nem sempre eu vou conseguir te dizer o que estou sentindo. Às vezes, é só uma vontade imensa de chorar e uma confusão enorme dentro de mim.
  • Quando eu estiver em crise, você não precisa dizer mais nada além de “eu estou aqui com você” e “já, já essa onda vai passar”.
  • Você também pode me ajudar a respirar, contando a respiração comigo, inspirando e expirando comigo. Pode me dar a mão se quiser ou tocar meu ombro.
  • Acolha minhas previsões de catástrofes dizendo coisas como “eu entendo que você pense assim, mas vamos pensar juntas em outras possibilidades?”.
  • Eu não tenho uma doença. Eu tenho um transtorno psíquico relacionado ao fato de que a sociedade em que eu vivo me exige, me culpa, me pune, me coloca em conflito o tempo todo e me faz pensar que o que eu sou não basta. Não seja mais um a me fazer sentir assim. 

Inverdades sobre a ansiedade

Por conta da desinformação, há muitas inverdades sobre a ansiedade que a gente escuta por aí. por exemplo:

  1. Só fica ansiosa a pessoa que é insegura e não sabe lidar com seus medos

Ninguém escolhe, deliberadamente, ser uma pessoa ansiosa, e não necessariamente a ansiedade tem a ver com medo. A ansiedade é um transtorno multifatorial e diretamente relacionada à irresponsabilidade nos discursos da sociedade.

  1. A ansiedade tem sintomas bem específicos: todo mundo que tem ansiedade reage da mesma forma (respiração ofegante, taquicardia, tremedeira…).

Cada pessoa vai expressar o que sente a seu modo. Tem gente que manifesta a ansiedade no sono, no apetite, no aparelho digestivo, na pele, no silêncio, nas palavras…

  1. A ansiedade é feita de crises, então não é necessário pedir ajuda, porque essas crises vêm e passam rapidamente. Só precisamos ser fortes e suportar.

As crises são o estopim da ansiedade, que pode nos fazer companhia diariamente sem que a gente chegue nesse estopim. Pedir ajuda é um grande sinal de força e uma atitude necessária.

  1. As técnicas para o controle da ansiedade são infalíveis e valem para todas as pessoas, afinal, a ansiedade tem características bem específicas.

As técnicas para lidar com a ansiedade não necessariamente funcionam pra todo mundo, justamente porque as pessoas são diferentes e vivem a ansiedade de maneiras diferentes. Além disso, nenhuma técnica pode ser considerada infalível.

  1. A ansiedade é um transtorno que nasce com a gente, é genético.

A ansiedade é um transtorno multifatorial e que se relaciona diretamente com as demandas sociais. Não se herda a ansiedade, desenvolve-se esse transtorno à medida que nos relacionamos com os outros e as coisas.

  1. Não adianta falar sobre ansiedade com ninguém, porque só quem sofre disso é quem entende o quanto é ruim.

Não é um requisito ter ansiedade para compreender o quão difícil deve ser vivenciar esse transtorno. Ter o transtorno não é a única via possível para dimensionar os seus impactos na vida de uma pessoa.

  1. Se a pessoa que tem ansiedade já sabe como funciona, ela pode se automedicar, tendo sempre à mão um calmante de emergência.

De jeito nenhum. O uso de medicamentos por conta própria coloca a pessoa em risco (de reação indesejada, interação nociva, dependência e até de morte). Estar em acompanhamento com profissionais psicólogos e/ou psiquiatras é fundamental no tratamento da ansiedade.

  1. O café, o energético e outras substâncias com cafeína não fazem nem cócegas em quem já tem ansiedade.

Não só fazem cócegas, como potencializam os sinais da ansiedade. Se você é uma pessoa com ansiedade, precisa evitar o consumo de produtos que contêm cafeína, taurina e outras substâncias que te “aceleram”.

10. Ansiedade é uma doença que tem cura, e o objetivo do tratamento com psicólogos e psiquiatras é se livrar desse mal.

A ansiedade não é necessariamente uma doença, e sim um sofrimento de ordem emocional. Não existe cura, e sim remissão do sintoma com o tratamento adequado. De modo geral, quando uma pessoa procura por tratamento, ela vai aprender a lidar melhor com o transtorno, identificando seus sinais, manejando as emoções na hora da crise, dando um lugar possível pra essa condição na sua vida.

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