Como você percebe que as pessoas se sentem diante do que você diz? E do que você silencia? Como você gostaria que elas se sentissem? E como você se sente em meio as suas trocas interativas? O texto da vez vem falar de comunicação, do dito e do não dito, da forma e do conteúdo, dos vínculos que fazem e se desfazem a partir do que comunicamos. Vamos entender um pouquinho disso?
Ping-pong da linguagem
Entre o que você emite e o que o outro recebe, pode caber um oceano, sabia? E quando você está ocupando o lugar de receptor/a/e, também não pode garantir que o que o outro emite te alcance exatamente conforme o que ele emitiu. A comunicação entre nós é um ping-pong que exige, sobretudo disponibilidade – para entender e se fazer entendido. Uma boa dica para desenvolvermos a habilidade da comunicação é sempre buscar se lembrar de quem está do outro lado. Quem é esta pessoa? Que acessos ela tem pra compreender o que você deseja emitir? Quais são os marcadores da relação de vocês? Existe tensão nessa relação? Há afinidade ou simpatia? O que você pode esperar deste outro?
Mirei nisso, acertei naquilo
Como já dizia o Jean-Paul Sartre (filósofo de quem a Gestalt-terapia e eu tanto bebemos), no fim das contas, o sujeito é o que ele faz. Por mais que a sua intenção, na hora de se comunicar, seja boa, o seu projeto de dizer esteja carregado de desejo de #paz, se a sua comunicação na prática não evidencia isso, o saldo vai ser negativo, essa comunicação vai se dar de maneira torta e, por vezes, bem difícil de consertar.
Então, confere por aí se o que você está intencionando está coerente com o que você está praticando. E neste mesmo tópico, falamos de um outro tipo de incoerência: quando comunicamos algo que, ao pé da letra, é pura doçura, mas que, numa leitura mais subjetiva, é ironia, comunicação passivo-agressiva, pra garantir que estejamos isentas/os/es de qualquer repreensão (afinal, não falamos nada demais), mas fizemos aquilo que intencionamos: ferir o outro. Mais uma vez, é hora de checar a coerência entre a intenção e a ação. Como você percebe esse ponto na sua comunicação?
O não dito que tanto diz
Como Gestalt-terapeuta, aprendi que o não dito está sempre se dizendo, que os silêncios também comunicam. Chamamos isso de linguagem não verbal, ou seja, aquilo que é comunicado, mas que não utiliza a fala como recurso.
Uma expressão, uma postura, um gesto, um afastamento, uma mensagem visualizada e não respondida… às vezes, todas essas comunicações contradizem a própria palavra e nos informam algo diferente do que é dito. Prestar atenção no não dito do outro e se autorizar a não dizer também é uma forma de cuidar da nossa comunicação.
Nem tudo se resolve no verbo. Às vezes, a gente precisa levantar e sair sem dizer nada; em outras, a gente precisa se afastar pra continuar gostando do outro; em outras ainda expressar no rosto, no peito, nas mãos a nossa insatisfação, a nossa animação, o que é nosso naquele momento, pode ser mais eficiente do que apenas falar. É claro que essa possibilidade de se comunicar vai depender da relação que está em questão.
Às vezes, se a relação permite, se o outro tem escuta disponível, se a dinâmica dessa relação se dá a partir do diálogo, sim, a gente pode/deve colocar os nossos incômodos e desconfortos em palavras. Mas, em outras vezes, em outras relações, a gente percebe que falar seria mais desgastante do que efetivo, pois não há espaço para o diálogo horizontal. Nessas horas, o não dito parece ser uma boa forma de reagir.
Onde, como, a partir do que eu quero hablar
Fatores importantes quando o assunto é comunicação são também o meio, o canal e os recursos que são utilizados nos nossos modos de comunicar. É importante sempre refletirmos, antes da ação, se o contexto para a fala que projetamos dizer é adequado, se o canal escolhido acolhe essa possibilidade, se os recursos que empregamos nessa comunicação farão as funções que desejamos que eles façam, que provoquem no outro os efeitos que queremos provocar.
Uma conversa difícil com este outro fica mais fácil ou mais difícil no WhatsApp ou no presencial? Por áudio ou por escrito? Com emojis e figurinhas ou sem? Com hora marcada ou numa oportunidade que surgir? Os arranjos de uma comunicação são partes importantes dela, que impactam diretamente no seu saldo.
Que o teu afeto me afetou é fato
Em Gestalt-terapia, estudamos a teoria de campo, do Kurt Levin. Essa teoria nos diz muitas coisas, entre elas, que duas pessoas (ou mais), quando estão interagindo, se relacionando, trocando, criam um campo, uma atmosfera que pode ser sentida e percebida por essas mesmas pessoas.
Sabe quando a gente solta uma frase pra quem nos escuta e aí sente que ficou um climão? Ou quando contamos uma boa notícia e, instantaneamente, o clima na rodinha se altera, o pessoal fica eufórico? Isso é o campo nos informando os impactos do que está sendo lançado nessa interação.
Por vezes, esses impactos consolidam uma dinâmica nessa relação, estabelecendo uma identidade pra ela, por exemplo: com algumas pessoas, já aprendemos que não podemos falar sobre um determinado assunto; com outras, já sabemos como provavelmente vamos nos sentir nas suas presenças. Isso tudo, aprendemos com as informações que o campo nos dá. Cuidar do campo é cuidar das nossas relações.
Escuta aqui
Sem dúvidas, a escuta é a habilidade mais necessária na comunicação. A gente tende a achar que escutar é fazer pelo outro e se esquece de que escutar é, sobretudo, subsidiar a nossa própria comunicação. Diariamente, a gente reage àquilo que nos chega, e o grande problema aqui é que a gente não espera chegar direito. A pressa em dizer, em se posicionar, em discordar é tanta, que a gente não se demora na escuta do que o outro comunica.
O Rubem Alves já dizia que via muita propaganda de curso de oratória por aí, mas que não via qualquer anúncio de curso de escutatória, porque nós não nos interessamos muito em escutar os problemas, as opiniões, os desejos, as necessidades do outro; queremos falar e falar, e nesse movimento, a comunicação se enosa, se enrola.
Um prato cheio para o mal-estar na relação. Escutar é legitimar o outro, demorar-se sobre o que ele tem a dizer, perceber como isso nos toca, para daí decidir fazer algo com isso.
Como têm se dado a sua comunicação? Como os outros têm se comunicado contigo? Que palavras têm sido o seu instrumento no mundo? Que silêncios têm te possibilitado viver relações mais saudáveis?
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